quarta-feira, 25 de março de 2009

a espera

À ESPERA DOS BÁRBAROS

O que esperamos na ágora reunidos?
É que os bárbaros chegam hoje.
Por que tanta apatia no senado?Os senadores não legislam mais?
É que os bárbaros chegam hoje. Que leis hão de fazer os senadores? Os bárbaros que chegam as farão.
Por que razão o imperador se ergueu tão cedo e de coroa solene se assentou no seu trono, à porta magna da cidade?
É que os bárbaros chegam hoje.O nosso imperador conta saudar o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe um pergaminho no qual estão escritos muitos nomes e títulos.
Por que razão hoje os dois cônsules e os pretores usam togas de púrpura, bordadas e pulseiras com grandes ametistas e anéis com tais brilhantes e esmeraldas? Por que hoje empunham bastões tão preciosos de ouro e prata finamente cravejados?
É que os bárbaros chegam hoje, tais coisas os deslumbram.
Por que não vêm os dignos oradores derramar o seu verbo como sempre?
É que os bárbaros chegam hoje e aborrecem arengas, eloqüências.
Por que subitamente esta inquietude? (Que seriedade nas fisionomias!) Por que tão rápido as ruas se esvaziam e todos voltam para casa preocupados?
Porque é já noite, os bárbaros não vêm e gente recém-chegada das fronteiras diz que não há mais bárbaros.
Sem bárbaros o que será de nós?Ah! eles eram uma solução.
Tradução de um poema de Konstantínos Kaváfis

1 comentário:

Marta disse...

Não conhecia!
Gostei tanto.
obrigada por este caminho.
porque vou procurar por mais.